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ADRIANE GARCIA

( BRASIL – MINAS GERAIS )

 

Adriane Garcia (Belo Horizonte, 1973) é uma poeta, escritora, teatroeducadora e atriz brasileira.
Graduou-se em História pela Universidade Federal de Minas Gerais e se especializou em Arte-Educação na UEMG. Seu primeiro livro, Fábulas para adulto perder o sono, venceu o Prêmio Paraná de Literatura em 2013, na categoria poesia. Em 2017, foi curadora do Festival Literário Internacional de Belo Horizonte.

Obras

2013 - Fábulas para adulto perder o sono (Biblioteca Paraná); 2014 - O nome do mundo (Armazém da Cultura); 2015 - Só, com peixes (Confraria do Vento). 2015 - e-book Enlouquecer é ganhar mil pássaros (Vida Secreta); 2016 - Embrulhado para viagem, Coleção Leve um Livro, organização de Ana Elisa Ribeiro e Bruno Brum (plaquete); 2018 - Garrafas ao mar, ed. Penalux; 2019 - Arraial do Curral del Rei: a desmemória dos bois, Conceito Editorial; 2020 - Eva-proto-poeta, editora Caos & Letras; 2021 - Estive no fim do mundo e me lembrei de você, editora Peirópolis; 2022 - A bandeja de Salomé, editora Caos & Letras.
Foto e Fonte: https://pt.wikipedia.org/



ENTRELINHAS , VERSOS CONTEMPORÂNEOS MINEIROS.   Organização: Vera Casa Nova, Kaio Carmona, Marcelo Dolabela.  Belo Horizonte, MG:  Quixote + Do Editoras Associadas, 2020.  577 p.  ISBN 978-85—66236-64—2            Ex. biblioteca de Antonio Miranda


Afogamento

Há um desejo
De imersão das águas
Adentrando narinas

Um treinamento
Pelo não desespero de
Afogar-se

Desejo da palavras aquática
Da palavras silenciosa
Dos peixes

Não um coração batendo
Que os assuste.


A origem da água

Dizem que os peixes não têm
Expressão

Os peixes estão todos
Tristes

Trafegam a água
De cá para lá
De lá para cá
No constante de
Carregar o mundo

Sem os peixes
Tão tristes
As correntes 
Cessariam

Ninguém se pergunta
De onde vem a água?
Ninguém desconfia
Que os peixes choram?

Natação

Maníaca
Quis casar e ser dona
De casa
Marido filhos vida regular

Mas não pode entrar
Num lugar
E ver aquários

A casa inteira alagando.


A multiplicação dos peixes

Na peixaria os peixes estão todos mortos e se estragando
As vísceras arrancadas com num homem
Estripado da Idade Média ou de outro dia na TV agora

Seus olhos estão opacos e assim sabemos se devemos ou
Não comê-los

A pele amolece a escama esmaece o cheiro é podre
Exceto se a peixaria tem muito gelo imitando o Alaska

O bacalhau com a cabeço decepada vem da Noruega

Um homem que não se sabe ainda se comia ou não os peixes
Disse que éramos o sal da Terra

Na infância aprendi que o Mar Morto era morto
Porque não tinha sal

Depois aprendi sobre os homens que não amam.



Presente

No Banquete grego as mulheres não devem falar
Agatão ganhou um prêmio por seu poema

As mulheres devem se retirar e ficar somente as que
Tocam flautas — nada de balbuciar palavras

Sócrates, Pausânias, Aristófanes, Alcebíades
Têm muito o que discutir  — deus cérebros fervilham
E ainda que não fosse, tomam vinhos, se deliciam e
Escolhem o tema: amor

Flautas dissonantes compõem um hino — longa a noite —
Para dois mil e quatrocentos anos depois.

*
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Página publicada em maio de 2024


 

 

 
 
 
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